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Nos últimos anos, presenciamos o termo “gênero” ganhar maior materialidade em diversos espaços do campo público e privado. Tal proliferação discursiva deixa de ser algo apenas das arenas teóricas e percorre o cotidiano de todos nós, em escolas, redes sociais, famílias ou clínicas, provocando um certo desacomodamento de estruturas que, embora estejam sempre presentes, são constantemente encobertas e levadas a permanecer em silêncio. O presente capítulo visa a refletir sobre os efeitos dessa emergência, partindo de um percurso introdutório e elucidativo da noção de melancolia de gênero proposto pela autora Judith Butler para pensarmos como o gênero é produzido subjetivamente a partir de determinados procedimentos psíquicos de poder. 

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Em A vida psíquica do armário, os autores refletem sobre os efeitos psíquicos exercidos pelo dispositivo do armário sobre o sujeito. Para isso, recorrem tanto a elaborações de Judith Butler, a partir do conceito de melancolia de gênero, quanto às maneiras pelas quais esses efeitos psíquicos se manifestam materialmente nos sujeitos, a partir de breves menções de documentários e recortes da escuta clínica. Em um segundo momento, a investigação reelabora e complexifica a estrutura do armário ao vinculá-la aos relatos de formação do sujeito e suas possibilidades de resistência. 

O artigo tem por objetivo discutir como a formação do psicanalista, devido a sua possibilidade de manutenção normativa, pode ter como consequência um impedimento na escuta do analista sobre determinadas questões, a exemplo do gênero. A partir de uma breve retomada histórica, procuramos refletir sobre como certas posições normativas na formação do psicanalista podem, ainda, estar presentes contemporaneamente. Neste artigo, concluímos que é importante ficarmos atentos a engessamentos e pensarmos em ações afirmativas dentro da própria formação do analista, na medida em que, do contrário, continuaremos a manter, intencionalmente ou não, certos regimes de inclusão e exclusão. Assim agindo, poderemos ter, como consequência, uma formatação normativa que poderá ter como consequência uma escuta violenta, patologizante e estigmatizante frente a experiências não-cisgêneras. 

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O artigo, em um primeiro momento, tem por objetivo discutir historicamente o conceito de cissexismo. Em um segundo momento, visa a demonstrar como esse conceito pode se transformar em uma regra não escrita da teoria psicanalítica freudiana se o analista não estiver atento às demandas da clínica e à cultura de seu tempo. Neste artigo, justifica-se que os estudos de gênero são ferramentas clínicas de arejamento teórico para que os psicanalistas não cometam atitudes normativas, violentas e estigmatizantes na clínica. 

O presente ensaio teórico, que parte da escuta clínica psicanalítica de pessoas trans, tem por objetivo refletir sobre estratégias locais de conhecimento encontradas, nesta experiência, para uma escuta não cisnormativa com a psicanálise. A metodologia utilizada para compor este trabalho foi em forma de um relato de experiência que visa a mostrar os acontecimentos de um percurso singular de formação independente em psicanálise, diante dos confrontos com a teoria, a clínica, a supervisão e a escuta. Constatamos, então, nesse breve ensaio, que a sustentação de uma escuta não cisnormativa necessita, primeiro, de um desmonte da escuta, ou seja, não um abandono completo da teoria, mas um desencaixe, um deslocamento, uma subversão a cada vez que preceitos cisnormativos se instalem, no intuito de não produzir condições prévias de inteligibilidade e diagnósticos precipitados diante das questões de gênero. 

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O presente artigo se propõe a analisar historicamente o posicionamento de psicanalistas sobre a temática das transexualidades. Nosso interesse, diante da análise, é apresentar uma reflexão sobre a posição dos psicanalistas, perguntando-nos se tal posicionamento reforça, ou não, a estigmatização e patologização das experiências trans. Essa perspectiva nos permitiu pensar na hipótese de que a postura dos psicanalistas poderia ser transfóbica mesmo tendo a psicanálise uma posição de exteriorização às normatividades de sua época. Nas conclusões, indicamos que as transfobias psicanalíticas produzem percepções estereotipadas, negativas e atos discriminatórios, que deslegitimam as experiências trans como possíveis e fora do campo da psicopatologia. Tal apontamento reforça a necessidade de uma desconstrução da própria psicanálise para que possamos romper com os discursos opressivos, normativos e colonizadores pela via da psicanálise. Palavras-chaves: transexualidades, transfobias, teoria psicanalítica, dispositivos clínicos. 

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O presente trabalho objetiva tecer uma reflexão acerca da constituição psíquica do sujeito proposta pela psicanálise, em conjunto com o conceito de gênero de Judith Butler, para repensar as problemáticas conceituais na leitura sobres os corpos e os processos de subjetivação na infância. Essa investigação foi realizada a partir de interrogações teórico-clínicas dos conceitos de prosódia significante e citacionalidade articulados com a escuta clínica de pessoas trans. Tal entrelaçamento, entre clínica e teoria, apontou para a necessidade de utilizarmos os estudos de gênero como analisadores teóricos de renovação da psicanálise em razão de leituras cisheteronormativas na infância, mesmo quando ela se propõe a pensá-la, desde a sua origem, polissêmica e polimorficamente. Ao percebermos como os corpos e as infâncias são marcadas por meio da citacionalidade e da prosódia significante, as quais pretendem manter um poder discursivo por meio da cisheteronormatividade, podemos reconhecer suas operacionalidades e constatar suas violências em diversos campos de saber, como a família, a escola, a saúde, a assistência social e a cultura. A partir de tais fatos, se torna necessário abrirmos questões na teoria psicanalítica para que possamos repensar a forma da nossa escuta e da nossa intervenção diante das manifestações de gênero na infância que não estão em conformidade com a norma; para, assim, conseguirmos trabalhar pela via da singularidade, e não da normatividade, devido a uma necessidade clínico-política. Palavras-chave: psicanálise, infância, transidentidades, citacionalidade, cisnormatividade. 

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